jane e elas: as janelas
Para Evandro
"Do
escuro do meu quarto
- imóvel como um felino, espio
a lagartixa imóvel sobre o muro: mal sabe ela
da sua graça ornamental, daquele
verde
intenso
na lividez mortal
da pedra... ah, nem sei eu também o que procuro, há tanto...
nesta minha eterna espreita!
Pertenço acaso à raça odiada dos mutantes?
Ou
sou, talvez
- em meio às espantosas aparências de algum mundo estranho -
um espião que houvesse esquecido o seu código, a sua sigla, tudo...
- menos
a gravidade da sua missão!"Quintana
escuro do meu quarto
- imóvel como um felino, espio
a lagartixa imóvel sobre o muro: mal sabe ela
da sua graça ornamental, daquele
verde
intenso
na lividez mortal
da pedra... ah, nem sei eu também o que procuro, há tanto...
nesta minha eterna espreita!
Pertenço acaso à raça odiada dos mutantes?
Ou
sou, talvez
- em meio às espantosas aparências de algum mundo estranho -
um espião que houvesse esquecido o seu código, a sua sigla, tudo...
- menos
a gravidade da sua missão!"Quintana
Casa Rural
Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira.F.Pessoa.
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira.F.Pessoa.
No tempo
Livros
Vi um livro no lixo e arrepiei-me pensando que há livros que nascem mortos. Pode-se viver sem ler ? Quem não lê não entra no rio da história e quem lê é como o mar onde desaguam muitos rios. Comprar um livro é sempre como a primeira vez, como quem marca um encontro para receber uma confidência. Uma casa sem livros está desabitada, é uma pensão... Os livros são janelas. Hoje vou abrir uma delas.
(Padre) Vasco Pinto de Magalhães, in "Não Há Soluções, Há Caminhos"
(Padre) Vasco Pinto de Magalhães, in "Não Há Soluções, Há Caminhos"
Rio Pardo
Aquele que olha de fora através de uma janela aberta, não vê nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada. Não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais radiante do que uma janela iluminada por uma candeia. O que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa por detrás de uma vidraça.Neste buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida.Charles Baudelaire
Infância
Essa casa tinha esse gramado e ficava num morro (decerto um morrinho, porque memória infantil não respeita proporção) e representava uma senha para a fantasia, a nossa ..dos netos que costumavam passar lá as férias; era quase um latifúndio e tudo o que eles comportam; nós fazíamos de tudo, desde trekking até aventuras tipo "perdidos no mato"(Liba). Tinha trilhas morro acima para jardins secretos de moranguinhos, vigiado por bugios barulhentos.Nascentes de água fresquinha.
O lugar mais misterioso era o porão, espécie de adega e depósito,tinha uma escadinha e quando chegava-se à porta já sentia-se o ar gélido e desconfio que no meio daqueles entulhos todos,uma abertura para alguma dimensão num passado perdido de gentes desterradas...Tinha forno de pedra onde a nona fazia belos pães, parreiral, todas as árvores frutíferas que nem conseguiríamos comer, mas que devorávamos verdes mesmo. Lugares secretos, corredores com quartos enfileirados, dispensa com queijos, salames e toda a parafernália de cozinhas italianas... a as polentas na tábua cortadas com linha....varandas, rádio antigo, relógio com pêndulo e cuco e sala de jantar com geladeira Steigleder(nesse época era lá que elas reinavam). Bebíamos vinho com água que o nono magicamente fazia, transformando com os pés uvas escuras em gargalhadas de netos.Ao entardecer sentávamos no degrau da varanda e ouvíamos histórias,olhando para a curva do rio.
E...janelas..muitas janelas para horizontes longínquos como nossa vida adulta.Foi olhando através delas que se formou minha essência, minha doçura. Toda vez que eu vou lá procuro os restos da minha inocência.
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